terça-feira, 2 de dezembro de 2008

“EU VOU É VENDER BALA!”




Tenho por casa uma marquise

Por cama, um papelão

Por supermercado, uma lata de lixo

Tenho por sonho, saber ler

Mas sempre acordo

Antes do sonho se realizar

Pois o despertador me grita:

- Pra você não há vaga!

- Pra você não há vaga!

- Pra você não há vaga!

Meus heróis,

Meus modelos,

Meus exemplos,

São aqueles que todos os dias

Se apresentam no palco dos semáforos.

Seus aplausos são as moedas

Que recolhem pelo chão

Quando o verde acena para o show encerrar.

Perspectiva de vida?

Nem sei o que é isso

Mas meu futuro não é incerto...

Eu já sei o que vou ser:

Eu vou é vender bala!!!


Esse texto foi escrito entre lágrimas, depois de ver uma reportagem para o programa Balanço Geral, na Record, onde moradores de rua, com medo da violência, abrigavam-se em hospitais públicos para dormir. A última frase foi dita por uma criança de 8 anos quando perguntada pela reporter sobre o que ele ia ser no futuro (já que o mesmo não esta na escola e nem documentos tem).

É esse o nosso Brasil, não o Brasil do calçadão de Copacabana, da rua Augusta e de tantos 'points' badalados pela alta sociedade.

Senhora do Meu Destino


Os cabelos brancos que ora surgem e logo desaparecem,
debaixo da cobertura de sucessivas tinturas,
mostra o quanto já vivi.

Os afagos, os cafunés que por ventura recebi
Enlaçam as minhas loucuras e desventuras
Na aura, no auge de minhas luas.

Não sou nem bela, nem feia,
tenho cara de brasileira...
O sorriso brejeiro e meu jeito faceiro são minha marca registrada.

Os riscos que marcam minha face
Exibo com orgulho,
Deles não fujo
Mas se pudesse os guardaria, como um tesouro
Em um porta-jóias com trancas,
Para relembrar cada momento, em segredo...
Pois, não sou santa...

No corpo,
as marcas do tempo se mostram nas dobrinhas inconvenientes.
Se não agrado a todos, não choro
Sou única, diferente... Mas os seios,
(esses guerreiros resistentes)
insistem em ser altivos
e caminham olhando para o céu.
Deles o leite já jorrou
Foram alimento, foram alento
Desejo e Cobiça,
Em arrepios, ainda pressentem.

Meu ventre, hoje não tão liso,
Guarda o calor
De fogo não consumado,
De semente germinada,
De vida gerada...
Queima, vive
Em gozo, se eterniza!


Parceria de Claudia Nunes e Lola



segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Devassidão


Adentra a cela

Com a luz já apagada,

Eu, ávida do suor do meu algoz.


Tremo as pernas

Ao timbre forte de sua voz.


Eis sua escrava no tronco condenada,

Chibatadas de prazer.

Ali no chão Sua refém,

Amordaçada a gemer.

Quem sou?


Alma carcomida,


Deformada,


Indigente que esmola o teu amor,


Tua atenção.


Tira de mim esse carma,


Acaba de vez com essa maldição!

Venda-me os olhos,

Ata-me as mãos,


Me assassina toda noite,


Deixa marcas no meu colchão.


Corroa a carne pútrida,

Prisioneira e sentinela dessa paixão,


Marque suas garras em minha pele


E me consome no fogo que arde em meu vulcão


Já não sou mais eu,


Fugi,
evadi de mim.

Agora meu nome é Devassidão!




poesia em parceria com Cientista




Teia de Sedução



Para ser sua
Perdi minhas veredas
E meus caminhos desviei
Andei torto por aí
As linhas da minha vida,
alinhavei
Contornei os meus medos...
E ousei. Incitei os seus mais íntimos
Instintos... Lascivos, ferozes,
Sublimados em toques macios
E olhares sutis.
Para ser sua
Rasguei o verbo e renasci
Deixei aflorar a fêmea
E numa teia de sedução
Te enredei...
desvendei e agucei todas as
sensibilidades, a rosa escondida...
despetalei.
Para ser sua,
Acordei em alegria
desabrochando enfim
toda sensualidade
fogo-mulher...
Só para ser sua...


poesia em parceria com Gê Fazio